segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA


(Ana Maria Machado)




Era uma vez uma menina linda, linda.
Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos e bem negros.
A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.
Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laços de fita coloridas.
Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar.
E, havia um coelho bem branquinho, com olhos vermelhos e focinho nervoso sempre tremelicando. O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha visto na vida.
E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela...
Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:­
- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela.
Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.
O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi.
Mas não ficou nada preto.
- Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:­
- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha...
Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até
com os parentes tortos.E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina,
tinha era que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.
Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda
a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha.
Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado.
E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
E ela respondia:
- Conselhos da mãe da minha madrinha...

A VELHINHA MALUQUETE



Era uma vez uma velhinha que morava na roça e tinha muita vontade de viajar.Como ela não tinha dinheiro para ir de avião e não tinha caminhão, mas tinha muita imaginação, resolveu fazer um balão.Passou dias tecendo, num tear.Passou dias costurando pano.Passou dias fazendo um cesto grande.Passou dias preparando linguiça, conserva, geleia e biscoito para levar de merenda
Depois passou horas fazendo uma fogueira, para ter muito ar quente. E encheu o balão.Na hora de sair, o ratinho que morava ali na fazenda viu aquilo tudo e ficou de olho na merenda.- Posso ir junto?- Poder, pode. Mas trate de se comportar.- Está bem. Eu prometo.O gato, por sua vez, ficou de olho no rato. E logo já eram três:- Posso ir junto?- Poder, pode. Mas trate de se comportar.- Está bem. Eu prometo.Correndo do alto do morro, veio também o cachorro:- Posso ir junto?- Poder, pode. Mas trate de se comportar.- Está bem. Eu prometo.Aos pinotes, em disparada, veio a cabra, toda assanhada:- Posso ir junto?- Poder, pode. Mas trate de se comportar.- Está bem. Eu prometo.No galope, no embalo, chegou depressa o cavalo:- Posso ir junto?- Poder, pode. Mas trate de se comportar.- Está bem. Eu prometo.E devagarzinho, babando, pediu o boi, ruminando:
 



















- Posso ir junto?- Poder, pode. Mas trate de se comportar.- Está bem. Eu prometo.Já estava todo mundo apertado no balão, que ia lotado.Para completar a brincadeira, apareceu a mosca-varejeira. Com medo de ser espantada, nem pediu. Ficou por perto, disfarçou e se meteu no meio quando o balão subiu.Não tinham ido muito distante e o rato resolveu dar uma provadinha na merenda. Logo, naquele instante, quando ia bancar o esperto, a mosca voou bem perto, e ele a espantou:- Sai daí. Você nem ao menos foi convidada. Vá amolar o boi.E como ela gostava de chatear, bem que foi.Tanto amolou, tanto chateou, que o boi resolveu dar uma chifrada na tal da mosca-varejeira.Mas ela era muito pequena e ele errou. Daí começou a confusão inteira, porque acertou foi no cavalo, que se assustou e deu um coice na cabra, que se assustou e deu uma marrada no cachorro, que se assustou e deu uma mordida no gato, que se assustou e deu uma patada no rato, que se assustou e começou a roer tudo no balão.A velha bem que gritou:- Vocês prometeram se comportar!Mas não adiantou.Naquela confusão, o balão foi caindo, com as cordas partindo, descendo devagar até no chão pousar.Mas daí a alguns dias foram todos viajar, num balão bem caprichado, com mais espaço e cada um no seu lugar. Os bichos é que fizeram, enquanto a velha ficava de papo pro ar.Sabe por quê? Por causa do que ela prometeu.E a promessa foi essa:- Se dentro de alguns dias eu não tiver um balão, vou é vender todos vocês e viajar de avião.E eles trataram de trabalhar, porque ela é gente que cumpre o que promete. Além do mais, eles queriam ficar com ela. Afinal, onde é que iam arranjar outra dona tão maluquete?